segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Paisagem condiciona instalação de parques eólicos

Os parques eólicos estão a alterar a paisagem de muitas localidades portuguesas. A potência eólica instalada, no final de Junho de 2008, situava-se em 2526 MW e distribuía-se por 161 unidades, de acordo com os dados mais recentes da Direcção-Geral de Energia e Geologia. A presença imponente de torres e aerogeradores vai intensificar-se nos próximos anos, devendo atingir os 5700 MW em 2012.
O facto de os locais de maior potencial eólico se situarem em cumeadas de serras, integradas em áreas protegidas ou sítios da Rede Natura 2000, tem vindo a chamar a atenção para os impactes ambientais desta fonte de energias renováveis, com destaque para o impacte paisagístico. Esta situação veio trazer maior exigência à avaliação ambiental dos parques eólicos, por exigir a justificação da compatibilidade entre a aptidão para a conservação e os impactes induzidos pelo projecto.
Não será de estranhar que, desde 2000, 20 das 113 ocorrências (17,7 por cento) de processos de AIA que apresentaram desconformidade de EIA digam respeito à instalação de parques eólicos. De qualquer forma, alerta António Sá da Costa, presidente da Apren, essa “sentença” significa que «o estudo tem deficiências ou está mal instruído. Mas a maior parte dos resultados dos estudos são favoráveis condicionados». Ou seja, o projecto pode avançar, mas cumprindo diversas exigências de minimização de impactes ambientais.
Da lista da Agência Portuguesa do Ambiente, das 112 ocorrências de processos de AIA da área da energia, 65 (58 por cento) são projectos de aproveitamentos eólicos. Só este ano estão indicados 8 parques. O exemplo mais recente, cuja decisão remonta a 14 de Agosto, é o da ampliação do Parque Eólico do Passarinho, do proponente Empreendimentos Eólicos Verde Horizonte.

Apesar da oposição à instalação de parques eólicos em zonas sensíveis, como áreas protegidas ou Rede Natura 2000, existe ainda um elevado potencial eólico por explorar nesses locais, acredita Luís Antunes, country manager da empresa Airtricity. O Parque de Montesinho, para onde a empresa irlandesa tem planos, é apenas um dos exemplos. «Do lado de cá ainda não há nada, mas do lado de lá da fronteira os espanhóis já estão a aproveitar o vento gerado na região», lembra o responsável.
Outra região a explorar é a Serra do Marão, o que levou a empresa irlandesa a assinar um acordo com a Hispano Lusa, do qual resultará a constituição da empresa Airtricity Marão, que será detida em 90 por cento pela Airtricity. A nova empresa será responsável pelo desenvolvimento de oito potenciais parques eólicos, cuja potência a instalar poderá rondar os 150 MW, nos municípios de Baião, Amarante e Mondim de Basto. «Há ali um raio de 5 a 10 km que tem um potencial enorme. Mas existem outras zonas com grande potencial, até fora da área protegida», afirma.
No mesmo sentido, Sá da Costa lembra que todas as zonas onde haja vento são interessantes, independentemente de estarem ou não em áreas protegidas. «Resta saber se os terrenos estão disponíveis e a que distância se encontra a subestação», diz.
Existência de linhas de alta tensão condiciona instalação
Para Aníbal Fernandes, presidente da Eneop, o potencial eólico, além do vento, tem de ter também em conta a proximidade da instalação de linhas de alta tensão. É por esta razão que afirma que «não há muito mais por explorar em termos eólicos». O especialista defende antes a substituição das máquinas antigas por novas. Desta forma, consegue-se mais potência com menos equipamentos.
A instalação de parques eólicos em áreas sensíveis, defende Hélder Spínola, presidente da Quercus, deve ser analisado caso a caso. «Nas áreas protegidas e na Rede Natura 2000 é necessário um cuidado acrescido. É preciso ter noção do potencial eólico em todo o território nacional para saber se não haverá outras áreas com igual potencial em zonas menos sensíveis», acrescenta o presidente da associação ambientalista, advogando também que se dê atenção às instalações offshore.

(Fonte: Tânia Nascimento)

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